Território sagrado
Fico impressionada em ver o quanto as pessoas se revelam inteiramente de forma tão fácil e banal para qualquer um: seus sentimentos, seus sonhos, seus corpos... tudo é revelado rapidamente sem grande cerimônia. No entanto, teimo em acreditar que existem partes de nós que são sagradas, e se qualquer um tiver acesso a elas, corremos o risco de perder aquilo que nos é caro. Em tempos de geração Big Brother, não existe mais o mistério do conhecer aos poucos, do desvelar-se com cuidado.
Quando nosso mundo íntimo é adentrado por quem não deveria nele estar, a conseqüência pode ser um imenso estrago interior. E é bastante trabalhoso reconstruir o que foi destruído.
Vivemos num mundo em que as pessoas não preservam aquilo que lhes é sagrado: o corpo se torna objeto e as relações interpessoais são descartáveis. A maioria simplesmente não consegue se ver como um território sagrado. Certa vez ouvi um padre (Fábio de Melo, que inclusive possui belíssimos livros) afirmar que deveríamos ter consciência de que somos território santo e, sendo assim, quem quiser ter acesso à ele deveria tirar as sandálias antes de entrar. Que bom seria se todos tivessem consciência de sua sacralidade!