Eu me lembro...
Eu lembro quando era noite e era fácil te amar estendendo o braço
Você dormindo eu abrindo os olhos madrugada alta
procurando o quente único da tua pele pra encostar meus seios
Era tão fácil te amar e amar o morno da pele os pelos finos das costas onde eu roçava os lábios o meu abraço te buscando no pequeno da cama o meu coração maior que tudo só porque eu te alcançava e pensava assim, sonolenta, como era bom esse corpo onde eu me encostava como me confortava esse abraço, esse calor, essa presença tão morna e sua, de um jeito que me fazia sentir menos só nesse mundo tão grande onde eu nunca tive lugar direito
E me encontrar em você meio da noite era tão grande e tão lindo e me dava uma dimensão tão nova do universo
eu era dona das estrelas, dos planetas, dos mares e dos bichos: eu tinha tudo no mundo
e essa comunhão noturna quase inconsciente que eu buscava traduzia isso
(Eu casei com você muitas vezes quando você dormia
fiz nós dois personagens de uma fantasia que era minha - e era linda, linda, embora eu nunca soube te contar direito.)
Contudo.
Ora, sempre há contudos quando há duas pessoas na mesma cama
E esse braço meu que te alcançava porque eu te amava mesmo se dormia, esse braço meu que te buscava e que eu pensava que era uma pluma uma brisa uma seda nem era bem assim.
E um dia você teve que me dizer, não tinha como evitar, que era tão simples pra você, decerto eu entenderia natural ficar atônita sem compreender porque chorei tanto tanto tanto tanto horas, noite inteira, de inchar o rosto querer morrer sumir depois dormir bem longe o pequeno da cama atingindo dimensões continentais onde escondi meus braços
para nunca mais te incomodar.
Eu lembro quando era noite e era fácil te amar estendendo o braço, você dormindo eu abrindo os olhos madrugada alta
procurando o quente único da tua pele pra encostar meu corpo e te amar do melhor modo que eu sabia.