Mente que mente.
A mente, tão indecifrável como água em tempestade, as ondas indo e vindo, leves, mortais. O mar, profundo, obscuro, misterioso, quem saberá o que há dentro dele e quantas maravilhas e horrores tal imensidão guarda, os segredos, os tesouros, os infortunos. São redes, são fios, nervos, eletromagnetismo. São frequências, máquinas, eco, resposta. Números, sequência, abismo, confusão. O que toca você, o que sente você, o que machuca você. Ouvir, falar, andar. Tudo complexo, tudo inexplicável, tudo sedento da mais vertiginosa atenção, louco para ser descoberto, tocado, sentido, amado. O ser, o querer, o saber. Como saber? Eu não sei, sinto o que ouço, mas não ouço o que sinto, falo o que sinto, mas não sinto o que falo. Penso, desejo, liquido, assassino. Cada pedaço de meu ser desfragmentado em partes pequenas, fragmentos de minha alma ordinária, bipolar e indiferente. Cada pedaço um ser, cada ser com sua personalidade e a cada morte nasce uma vida nova, parte-se mais um pedaço e forma-se uma nova consciência superior á que morreu, pois esta recém nascida viu os erros que a falecida cometeu e não quer tornar a errar como ela, fechada, vazia, inconclusiva. Mente louca que mente para defender a si própria, pois quem nunca começou a rir em meio a uma crise de choro sufocado, insuportavelmente doloroso que não haveria grito que fizesse a dor sair, apenas... O riso. O riso em forma de mentira, uma mentira que contamos a nós mesmos como todas as outras, mas dessa vez não de fora para dentro e sim de dentro para todo o seu ser, cada gargalhada histérica acalmando o tremor compulsivo dos soluços, amansando o ardor na garganta e secando as lágrimas que ainda teimam em irromper como cachoeiras, ou quando não há mais uma lágrima sequer para cair, e sua mente fica implorando para que pares com essa tortura louca, pois ela já está a ponto de explodir, sim, ela está, e então ela explode, em riso, um riso sem explicação, sem motivo, sem causa, mas com um efeito milagroso sobre a dor, ao menos momentaneamente, pois logo que o riso é sufocado ou acalmado, a dor vai, como uma sombra, como uma fumaça densa, espalhando-se por cada espaço, cada célula, cada nervo, sorrateira, cruel e imperceptível, e quando resolve atacar vai em todos os pontos, para que nenhum milímetro de seu ser se permita sorrir, ou lembrar do riso que outrora servira como antídoto. A dor embaça sua visão, não há mais lágrimas que alcancem ou que sequem o poço cheio de mágoa, orgulho, tristeza e derivações ainda não denominadas, pois nomeá-las seria calúnia, impossível, nunca se alcançaria a intensidade desse doer com meras palavras, são mais que sentimentos, são mais que palavras, são auto torturas silenciosas que não tem explicação. O externo não pode curar tão profundo buraco feito em sua alma, sim, há uma cratera, um buraco negro sugando sua vida lentamente, divertindo-se com sua agonia, com as contrações de seu corpo, e é então que nasce outro ser dentro de si mesmo, um ser próprio, maligno, escuro, a dor deixa de ser um sentimento e torna-se a própria escuridão alucinada dentro de você mesmo. E agora ela é um ser que sussurra, uma sombra, uma voz, um sibilar de paranoias, pensamentos, loucuras que mantém sua essência coagida e toma o controle de sua mente para si própria usando de brinquedinho seu corpo, sua mente fraca, suas lágrimas, e ri, ri por dentro, ri histérica, ri como louca porque é divertido sentir dor, matar-se aos poucos com a própria mente, torturar o corpo e a alma frágil com sua psicose, afogar-se em lágrimas pedindo socorro enquanto parte de você te quer morto e a outra implora miseravelmente para continuar vivo. Dois lados, dois mundos, duas almas habitando um único corpo, fragmentos, pensamentos, conclusões, prisões, prender-se dentro de si mesmo porque a máscara que está estampada todos os dias, para todos, em nossa face não consegue ser mostrada a nós mesmos, ainda que a olhemos no espelho, vemos apenas o que somos por dentro, mentiras, quem pode contá-las? Quem pode aceitá-las? Você sabe mentir para si mesmo?