Enfim, eu.

Em meio a mascaras, maquiagem, perucas, figurinos, cores, enredos, textos para decorar. No meio dos palcos, dos cenários, das pessoas, dos coadjuvantes, do diretor, do editor. No meio disso tudo encontrei a personagem principal. Meio Marilyn, Meio Grace Kelly, as vezes trilhava um suspense de Demme, romance de Curtiz ou ação de Cameron com todas as catástrofes e exageros de imagem tão vistas nos seus filmes, nos filmes da minha vida. Veste-se de nu como se aquilo fosse preciso para mostrar a alma que meus infinitos papéis cansavam de habitar. Trocando as faces, pintando uma lágrima no canto do olho ou um sorriso enorme na boca. Fechava a cortina para vestir mais um, e outro, e procurando o eu que seria de fato principal e necessário. Me perdi em palcos escuros, encarei as câmeras da vida e das pessoas, meio que inquisitórias e sempre pedindo mais e mais de mim. Eu não conseguiria ser mais no auge da extrema necessidade pelo menos. Em cada romance um novo principe na espera por um cavalo branco, sempre me vinham tanques de guerra ou munições pesadas. Dilaceravam meu coração. Fiz a lista e fui riscando, um a um, até me sobrar meu reflexo na folha molhada por lágrimas e ódio, reflexo clarinho, estranhamente feliz. Eu ia do riso ao choro. Do canto ao grito. Do sim ao talvez. Eu ia do ódio ao amor. Do caminho ao atalho. Do certo para o errado. Da mocinha para a vilã.

Passei a vida toda vestindo personagens, sem perceber que o meu melhor papel é ser eu mesma.

Prazer, Laís.

Lalemos
Enviado por Lalemos em 16/02/2013
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