Diálogo com a língua
Eu converso impunemente com a língua, ela não me indaga, não retruca. Eu é que forço um diálogo malhado, meio falho, com ar de colegas embreagados; ao contrário das convenções eu me arrisco, convido-a para um jornal matutino, um pingado, pão e manteiga, um jantar a dois.
Não me importo em carregá-la comigo; adoro desfrutar de sua companhia no bar, no escritório, no impulso elétrico do tubo da tv; a língua se propõe a mim, ela é discreta e não se propaga com louros de atriz bem paga; quanto a mim? aceito-a com braços suaves, lábios molemente estremecidos, úmidos olhares de amante e com gritos de inovadoras vocabulices.