Formigueiro
Eu preciso de espaço. Preciso de estar sozinha para ver se o problema é me sentir sozinha. Ninguém gosta de estar sozinha. Ninguém quer estar sozinha. Tá, chega de paranóia com o estado solitário. Resolvi viajar. Não irei a pé, ou de ônibus, ou de carro. Vou voando. Não de avião, foguete, ou mesmo um tapete voador. E nem com o pó mágico da Sininho. Desafiei a gravidade e estou me erguendo pelo céu.
Nunca cheguei tão perto de uma nuvem, claramente ninguém chegou. Sua textura é estranha, não parece com um algodão doce, como todos dizem, se parece mais com um gás mas concentrado e, daqui de cima, as pessoas parecem míseras formigas, indefesas e insignificantes, facilmente esmagadas pelo gigante mundo. O que me lembra que eu também sou uma formiga, patética como todas as outras, a única diferença é que eu posso voar, sozinha e para qualquer outro lugar. Aqui em cima é vazio, já me esbarrei com um pássaro mas fora a isso, é vazio. Deve ser pela pouca quantidade de oxigênio. Ou por, simplesmente, ser vazio.
Estou paralisada. Não de medo. Só pensando na teoria que diz que as formigas não vivem sozinhas, vivem em sociedades, mesmo não sabendo viver em sociedades. Não sabem conviver, não sabem amar, não sabem ser amigas. Não sabem a diferença entre ouvir e escutar, porque não querem saber. Mas precisam viver em sociedade, porque, sozinhas, elas percebem o quanto é inútil a sua existência. “Uma formiga pode mudar o mundo.” Não, não pode. Uma só não é ouvida, pois a sociedade prega palavras mas ainda crê em quantidade e não qualidade. Incrível como um vazio faz você perceber os problemas de um cheio. Talvez seja por isso que aqui em cima não há vida, pois todas estão lá em baixo, tentando resolver a bagunça criada por todas as formigas.