A companhia da solidão

Deixo-me sozinha, e por um instante percebo a solidão do meu lado. Dificil ter algum tipo de conversa - que não seja um tanto quanto retórica - com esta companheira quase que inseparável. Mas é mais dificil ainda ter de ficar calada, ouvindo a melodia monótona que o ócio do esgoto da alma exala. Deixo a correnteza morta me levar, aproveito cada momento, cada parede suja e escura que me representa tão intrinsecamente.

É incrível perceber como nós, seres humanos, somos falantes, prolixos, e sinceros, do lado de dentro. E é mesmo uma viagem emocionante, se mergulharmos à fundo, bem fundo, onde mora a verdade, somente a verdade - as águas mais sinceras do nosso ser. É preciso coragem, fôlego e vida para conhecê-las.

De vez em quando, quando estou com saudades de mim - quando está insuportável suportar - mergulho nas águas geladas e refrigero-me outra vez. Se estou sozinha por muito tempo, e já nem lembro mais onde me encontrar, há sempre um lugar certo e seguro, onde provavelmente estarei, acompanhada da minha quase amiga - solidão - que gentilmente me empresta seu oxigênio e companhia.