A Morte, minha aliada


Veja bem, dona Morte,
Não estou preparada ainda.
Perdi meu tempo com coisas fúteis, reconheço
Mas preciso de um pouco mais de prazo.

Leve sua veste negra para longe
Jogue fora esta mortalha que não me cabe
Quero ainda dias longos
Noites tranquilas e saudáveis.

Quero viver só o que é importante
Deixar de acreditar na estupidez do meu ego
Tomar bons vinhos, ler bons livros
Olhar no espelho e gostar do que vejo.

Vá embora esqueleto fúnebre
Leve daqui sua gadanha
Quero meus dias de sol e de chuva
Coisas belas e boas, jamais tanta tolice

Saia daqui dona Morte,
Eu exijo quase como uma súplica
Me deixe por aqui mais um pouco
Vivendo a vida, jamais as suposições que eu dela fizer.

Sou nova ainda, nem meio século
Tenho tudo o que preciso
Sim, é fato que me perco em pensamentos inúteis
É fato que me prendo em bobagens e besteiras.

Por isso, preciso de tempo
Preciso de um pouco de sabedoria
Suspensa sua lista de último dia
Deixe-me ver a beleza de tudo que me cerca.

Sei que não mereço tamanha consideração
Pode ser que amanhã
Eu caia novamente no vício da reclamação
Mas só por hoje leve daqui este aviso fatal.

Adeus dona Morte, vou ignorá-la
Transformá-la talvez na minha mais fiel aliada
Assim, toda vez que sua face descarnada olhar para mim
Me lembrarei de viver, pois sei que estará cada vez mais próximo o meu fim.

 
Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 16/10/2012
Reeditado em 17/10/2012
Código do texto: T3936192
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