Pedintes
Minha cidade está muito feia, pois uma multidão de pedintes a invadiu. Olho na calçada, tem um num cavalete. Passa um carro por mim, miro outro em adesivo. Sigo mais adiante, vejo um quase out door com a figura de mais um pedinte. As calçadas e as ilhas também foram tomadas por eles.
Vejo pedestres desviando seu curso a fim de dar lugar a quem? Ao pedinte. Coisa feia isso! E eles não se cansam de pedir. Usam todo e qualquer argumento em seus discursos evasivos, vestem-se de todas as maneiras, fazem caras e bocas e pedem, pedem, pedem, pedem.
Dias atrás, um deles estava no semáforo distribuindo sorrisos, adesivos e, é óbvio, pedindo. São tão anônimos quanto eu, num show para duzentas mil pessoas, e são demasiadamente mais caras de pau do que eu, quando estou com pressa na fila do banco, usando minha hora do almoço para pagar contas. Nunca me viram, tampouco conversaram comigo, e na maior coragem poluem o visual de minha cidade, ficam a me olhar, onde quer que eu esteja, usam e abusam do alto-falante do carro de publicidade plagiando músicas de gosto duvidoso e não se cansam de pedir!
Evidentemente que muitos deles ganharão o que querem, mas, e depois? Como vão usar o benefício? Será que partilharão comigo o que ganharam? Rá, rá, rá!
E para piorar, nem consigo finalizar meu texto sobre os pedintes, porque eles são como uma praga epidêmica: vão e voltam.