Minhas Entrelinhas
Beije-me antes de dizer adeus, mas saia em silêncio.
O verão pode ter um gosto triste e eu serei o melhor em te mostrar isto.
Serei seu garoto pervertido ou o seu cão de guarda, depende de como você me adestrar.
Sempre te darei tristezas por eu não ser tudo aquilo que você idealizou. – Não há problemas aqui meu bem... Apenas estou sendo eu mesmo.
Não me lembro de assinar contratos com você, pois bem, estou no caminho certo.
Grandes olhos olham para mim, mas eu irei os esquecer para sempre.
Esquecerei também dos seus lábios que vivem por se enroscar nos meus, mas apesar de tudo isto, vou te salvar sempre das tuas tentativas de suicídios repentinos.
Sinto-me um carro sem motor, um beijo sem língua, um sexo sem penetração, uma música sem melodia, um sorriso sem dentes, quando você se ausenta nas minhas noites longas.
Só por você troquei os horários e permaneço em uma troca constante.
- Nós estamos com tanto sono que nossos olhos estão se coçando e ficando vermelhos como sangues genuínos. – Que vermelho brilhante!
Não sei quando será a sua última noite ao meu lado, posso friamente te matar dentro de mim ou resolver partir.
Preste atenção nas minhas entrelinhas senão você jamais captará a mensagem que eu quero tanto lhe entregar, mas não posso ser muito obvio, assim perderia a graça. Se você não descobrir do que estou falando, quer dizer que nunca me amou. – Isto não seria nenhuma surpresa para mim, já que amores de verão estão cheios por aí.
O agora é o já? O antes o ontem? – Nem sempre.
Já vivi muito o ontem no hoje, por exemplo.
Vivo vivendo o amanhã no hoje também. Enquanto a viver o hoje no hoje, fica para o meu pensamento mesmo, porque na vida real a fila anda de outra forma. Não posso viver no hoje sem me lembrar a todo instante do ontem e ficar aflito por causa do amanhã.
São coisas do nosso cotidiano capitalista e pouco justo com os artistas do tempo atual.
É sempre assim mesmo, todos sempre vangloriam os artistas do passado e dizem que os futuros artistas serão encantadores, ninguém nunca vê o que acontece hoje, o que acontece hoje parece sem graça. Fomos acostumados assim e não importa o que façamos sempre os do passado e os do futuro serão melhores. Sempre!
O mundo não se salvará com meia dúzia de filósofos e governantes inteligentes. Ganhamos pela quantidade e quando se trata de qualidade todos deixam a desejar, mas ao mesmo tempo fico feliz, é bom saber que coisa boa é sempre restrita. Se todo mundo gostasse de coisa boa seria uma banalização e não é isto que os verdadeiros artistas querem.
Quando falo de artistas represento calmamente e obviamente os cidadãos, mas não se acostume. – Odeio explicar minhas entrelinhas. – Odeio quem toma muito o meu tempo, mas eu odeio mais ainda quem acha que me incomoda demais e nunca está presente quando eu mais quero.
A roupa daquele espantalho cai perfeitamente em nós como algo vintage. Talvez o nosso amor volte. Coisas antigas eram mais duradouras, mas eu gosto desse amor tecnológico, gosto de excluir o que não me agrada e logo esquecer. A verdade é que com toda essa tecnologia e com este mundo de possiblidades amar fica difícil, sempre alguém parece melhor que você e vice versa.
Hoje estou escrevendo bem diferente do que costumo, não sei o que de fato está acontecendo comigo, deve ser uma espécie de reciclagem e resfriamento cerebral. Escrever na mesmice bloqueia o processo criativo, pois bem hoje estou aqui fazendo uma critica que não parece critica a vários assuntos que me incomodam de uma forma ímpar.
E sobre você. – Acho que mudei de ideia, se quiser se suicidar te levarei até um penhasco, cansei de interferir em destinos, coloque a sua melhor roupa, salte e depois sinta o escuro. Ficarei de cima observando como você se arrebenta no solo. Pode ser que após isto eu salte também, talvez não. – Só se tivesse alguém para me ver esborrachar no chão. A graça está em alguém ver a sua desgraça. É disto que as pessoas gostam, se alguém aparecer, eu salto. Caso contrário apenas fico rindo de você.