A pior parte de mim

Quanto tempo desde o adeus? Não risquei aquela data no calendário, nem guardei na memória se chovia ou se fazia sol, se era dia ou se a lua já estava no céu… Certas coisas eu simplesmente não faço a menor questão de lembrar, e tenho esse dom incrível de conseguir apagar de mim, como quem passa a borracha num erro em lápis numa folha qualquer. O problema disso, como você deve saber é que mesmo após a tentativa de não deixar vestígios do que antes ali se encontrava é inútil, sempre fica uma marca. E não importa quantos dias passem, se um ou cem, ainda vai dar pra notar aquela sombra por trás da nova palavra, ou aquela lágrima por trás de um sorriso amarelo e descaradamente torto. Assim funcionam as lembranças… Por mais amargas que sejam, por mais que tenhamos um abismo imposto sob o que antes era palpável, de vez em quando a gente esbarra com aquela saudade estúpida. Foi o que acabou de acontecer, vi uma foto idiota de um casal que nem conheço e quando me dei conta estava aos prantos… Lembrei de nós. Eu ainda tenho, não sei por que motivo, todas as cartas que te escrevi, a maior parte delas você sequer chegou a ler… Estão guardadas num canto escuro da casa junto com tudo o que havia de bom em mim. Desde que você me deixou, eu também me deixei. Larguei de mim, lancei-me numa triste e podre rotina. faço coisas que jamais acreditei ser capaz de fazer, por julgar ser vulgar demais, errado demais, imperdoável demais. Me tornei a pessoa mais cruel que conheço, estou completamente suja. Não é algo que vá sair de mim com um banho quente, e acredito que jamais serei novamente aquela garotinha meiga que um dia você conheceu; e nem sei se quero ser. O pior de tudo, é saber que a culpa é tua, por eu estar nesse estado de podridão total. Eu era inocente, acreditava no amor, e ficava feliz com pouca coisa. Meu mundinho particular era um conto de fadas, mas hoje é uma história de terror. Desmontei meu castelo e construí um poço fundo, úmido e escuro o suficiente para que ninguém consiga me encontrar dentro dele. E se eu passar na tua rua um dia desses, por favor se me reconhecer, não venha atrás de mim. Me ignore, como fez com o amor que eu te dei. Não vou te perdoar por ter me visto cair e não estender a mão para me puxar de volta.