Uma Outra Vida
Ela olhou a roupa fresca estendida no varal.
O céu, de um azul intenso, anunciava o começo de verão.
Olhou os brinquedos jogados em um canto do quintal e pensou em gritar pela milésima vez para que recolhessem aquilo. Ficou quieta.
A tarde ia morosa, lenta como se os ponteiros do relógio se recusassem a passar.
Um avião voava alto, dele apenas o barulho distante do motor sofredor.
No meio da luz amarela do sol do meio da tarde, ela lembrou.
Lembrou com os olhos presos nas folhas da grama recém-cortada.
Lembrou com o coração apertado e com a respiração aos goles.
Precisava olhar mais vez, uma última tentativa, quem sabe uma esperança.
Talvez desta vez, ele estivesse lá.
Um cachorro latiu ao longe e o carro de sonhos anunciou os sabores.
Ela engoliu o choro e secou as lágrimas.
Amanhã era dia de trabalho,
Amanhã a esquina ainda estaria lá.
Quem sabe um pouco de sorte.
Quem sabe um sorriso jogado ao vento, para qualquer um...
Em parte, para ela.
Quem sabe, enfim, a espera terminasse.
O som do celular tocando a trouxe de volta.
Promoção de alguma coisa que não ouviu.
Amanhã olharia mais uma vez.
Um dia,
Ele estaria esperando por ela...
E estava.
Imagem: google