O HOMEM DA ARTE.

O HOMEM DA ARTE?. O homem da arte nascerá para o viver e não para o existir.Para o viver e o existir eu poderia usar duas palavras tais como, certo e errado, mas acho que essas duas palavras comprometeriam em si uma sentença para o pensamento final antes mesmo que este fosse concluído em toda a sua extensão gramatical. Sendo assim prefiro colocar o viver como verdadeiro e o existir como algo inventado à base de crendices e imaginários regidos por leis. Para tentar desenhar o que seja realmente o viver dentro desse pensamento é necessário Construir meios de ação e antecipação da arte numa via de contra mão única que nos conduza ao corpo e o seu encontro com o animal, que mesmo domesticado saberá se posicionar diante do seu verdadeiro lugar na vida, siamesa da natureza, sem a mínima intenção e possibilidades de querer dominá-la ou reinventá-la. Estando nu esse homem descobrirá que nunca pôde também dominar o tempo que nunca começou e que nunca vai terminar.Estando acomodado nesse não território da existência em estado de sua nudez total, ou esvaziamento dos tempos de sua existência, esse homem encontrará em si o homem da arte, não o homem de uma arte bela, pura e tribal mas sim um homem da arte urbana tatuado por cicatrizes do seu recente passado que ele terá que esquecer. Em posse do corpo retomado esse homem verá que de Platão até os dias de hoje ele próprio foi prisioneiro em um lugar onde o senhor era escravo do seu escravo que era escravo do seu senhor, num movimento maldito, circular e idealista.O homem da arte é o homem da arte porque a arte é a ação de vida concreta que produzirá especificas formas de artes que serão veículos de relacionamentos desse homem com as forças da vida e da natureza. Essa ação de vida plena, acredito eu, produzirá uma arte que Proust indicou como a única possibilidade de alma imortal diante de imensa contemplação e esquecimento na vida. Esse homem da arte será tomado por uma coragem heróica e olhara a vida e o tempo nos olhos e viverá dia após dia vendo a morte como um processo da vida e não como sua inimiga. Logo o esquecimento o tornará pleno e ele não se importará mais porque estará a salvo do pesadêlo da existência oriunda de um leve sono na caverna de sombras oscilante de primaveras, talvez necessárias, mas como sempre impontuais! (Quem sabe se dos jovens excluídos e descatequizados das grandes periferias venha a emergir um novo homem, o novo homem da arte). ( Paulo de Medeiros ).