Existem cheiros
que não desgrudam da pele quando o ser se vai, a gente gosta, a gente se cheira, a gente procura o cheiro até mesmo depois do banho, depois de bastante espuma. A gente procura no travesseiro, na roupa, na pele. A gente até pensa que acha, ou a gente acha mesmo.
Agora, existem cheiros que permanecem mesmo sem motivo. Não queremos, não gostamos, não nos fazem bem - mas a gente sente. Geralmente perdemos o cheiro que nos faz bem, que nos acolhe a alma. Já aquele cheiro que não nos é importante fica, e chama, e o ser a quem o cheiro pertence volta e volta e volta e fica voltando assim, de parte alguma.
Pra que esse maldito cheiro? Pra que teu cheiro se o que eu quero não é o teu? Pra que esse cheiro se o que eu quero eu nem sei onde está? Se o cheiro que eu quero é o meu próprio cheiro que se perdeu nos lençóis dele?
Quem sabe meu cheiro seja, na realidade, uma fusão com o dele.
DÉCEMBRE, 03