Carta
Amiga oculta. Má. Boa ao mesmo tempo. Ausente tantas vezes, mas sempre à espreita. Eu sei que você está aí, só esperando a hora certa de dar o bote. Enquanto isso, se derrama em luxúria só de me ver, pensando em você. Te desejando com súplica, incerteza e medo. Tantos gastam muito tempo pensando em você, que acabam não tendo tempo de viver.
Não corro esse risco porque não estou viva. Ou quase. Ou talvez esteja, mas não acredito que seja assim, tão bom, a ponto de querer adiar nosso encontro. O texto é sobre você. Se analisarmos em ordens gramaticais, você seria o interlocutor. Mas em ordens sinceras, reais, não passa de um obstáculo, caminho, meio, de se alcançar algo. Ou se alcançar o nada.
De qualquer jeito, o lucro é meu. Mesmo se não houver mais nada depois, o esquecimento, o vazio, a inexistência será melhor do que estar aqui.