A Tinta Marrom

Uma criança de sete anos me trouxe à vida nesta manhã de sábado. Não, eu não estava morta. Trazer à vida é despertar minha alma para enxergar o símbolo das coisas, ver profundidade nelas.Às vezes corremos tanto de algo que nem sabemos o que é, e não nos sobra tempo pra olhar pra vida com calma. Com aquele olhar que pretende ver a estrutura, o real escondido no fundo da figura, a alma presa no objeto.

E assim, com a pressa rotineira, companheira do dia-a-dia, eu acordei hoje. Porém, algo mudou quando encontrei uma pessoa ainda tão nova em idade, tão simples e complexa ao mesmo tempo. Sua alma diz coisas que passam longe do superficial, do óbvio e da pressa. Ela tem tempo pra misturar todas as tintas e ver que cor vai nascer. Contempla o nascimento da nova cor e orgulha-se do feito, dá nome á obra e repete: só eu consigo fazer essa cor. Vejo a felicidade em conseguir fazer uma mistura de cores. Ao todo, foram criadas três tintas marrons. Marrom fluorescente, marrom árvore, marrom sem nome. Para mim, todas bem iguais. Para a criança, três cores com três histórias muito diferentes. Começo a pensar que realmente deveríamos nos orgulhar dos nossos pequenos feitos ao invés de guardar auto-sorrisos e auto-elogios para ocasiões especiais. Talvez ela, com sete anos, saiba mais da vida do que eu. Talvez veja mais longe e profundo do que meu desejo de ver imediatamente.

Laís Pereira
Enviado por Laís Pereira em 01/10/2011
Reeditado em 03/10/2011
Código do texto: T3252332
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