Velha conhecida.

Pode parecer clichê dizer isso, mas para mim escrever é um parto! Durante o processo é uma dor sufocante que me faz sentir ser a pessoa mais acéfala do mundo. Mas quando digito o meu último ponto final, surge um prazer imenso ao contemplar o que eu dei vida. O meu único problema é que eu não tenho coragem de expor o meu orgulho ao mundo, mas eu realmente queria isso?

Domingo à noite. Em casa. Rádio ligado. Cachorro dormindo aos meus pés, um sono tão pesado e tranquilo que me faz sentir inveja. Admiro a capacidade daqueles que dormem profundamente, dom que eu não possuo mesmo nos dias que deito na cama quase ao amanhecer (desperto às 08h00min regularmente).

Hoje estou escrevendo pouco antes de ir dormir, ao contrário dos outros domingos que escrevo durante a manhã. A vontade de materializar o que ocorre em minha cabeça surgiu com o seguinte pensamento: Hoje a Depressão não veio me visitar.

A Depressão pensa que é uma amiga íntima, afinal me acompanha a muitos anos, mas não consigo assumi-la ao mundo e nem pretendo fazer isso. Acho deplorável pessoas que gritam "EU TENHO DEPRESSÃO, OLHEM PARA MIM", para mim isso é um atestado de carência. Fazer com que os outros tenham pena de você não te fará sentir melhor, apenas se enterrará ainda mais. Penso: NINGUÉM ESTÁ INTERESSADO NOS PROBLEMAS INTERNOS ALHEIOS, SOMOS MUITO EGOÍSTAS PARA ISSO. Então por mais triste que eu esteja e por mais rasgante esteja a dor por dentro de mim, prefiro dar o meu melhor sorriso e dizer "Eu estou ótimo!", e eu acredito.

Mas voltando a ausência da velha conhecida, hoje ela não apareceu. Até comecei a ouvir algumas músicas melancólicas e suicidas para ver se ela surgiria, afinal é domingo à noite e até cheguei a considerar que este era o horário fixo dela, porém hoje ela faltou.

Não estou querendo escrever algo auto-ajuda e nem sei se estou sobre um efeito desse, mas noto que faz dias que a Depressão tem se tornado escassa, faltosa. Nunca fiz questão dela, sempre a escondi, e para ser sincero quero dizer "Isso mesmo, cai fora! Cansei de sentir pena de mim mesmo, não mereço."

Mas com isso eu me pergunto: então estou feliz? E rapidamente me respondo: Claro que não! Se eu não estou triste e não estou feliz, resta-me dizer: Estou neutro.

A neutralidade é a arte de não sentir nada, quase beirando ao sublime. É apenas viver em modo automático, fazer o cérebro agir rapidamente a certos comandos. Isso é bom, nada mais. Apesar de se situar no meio, eu sinto que esse estado está se inclinando à Felicidade, uma relação que eu e o resto do mundo estima muito, espero que dê certo. E quem não quer?

Não acredito que a Depressão sairá por completo de minha vida, haverá dias que ela fará participações especiais. Mas só o fato de saber que ela já não faz mais parte do elenco principal de minha vida é reconfortante.

Bem-vinda, Felicidade. Eu te espero há muito tempo!

Rafael Fernando Victor
Enviado por Rafael Fernando Victor em 17/07/2011
Código do texto: T3101677
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