O ADEUS DAS ÁGUAS
No seu bairro falta água
e no meu há em abundância,
o descuido desse povo
fez perder a vizinhança.
Passe em casa e encha uns baldes
para aplacar o choro da criança
que tem sede de água pura
e um pouco de esperança.
Águas urbanas vão esvaindo-se
feito amores negligenciados.
Mas lá em casa a água é limpa
e o meu amor é bem tratado.
E em casa a gente não desperdiça:
tempo, dinheiro e muito menos água,
pois água boa não brota da torneira
e por nós não pode ser gerada.
No seu bairro há falta d'água,
entretanto, não falta aquela enxurrada:
sai dezembro, entra janeiro
e só mesmo a casa modesta
ainda não foi arrastada.
Águas que correm céleres;
que se despedem como rios de lágrimas.
É certo que hoje estão a chorar por nós
e que amanhã choraremos pela ausência delas.