Um tempo que não volta

Um dia desses, ao olhar-me no espelho, como faço em todas as manhãs, percebi que meu semblante havia mudado. Aparentei mais velha que na última vez que me olhei. Pensei que havia dormido durante uns cinco anos, talvez. Mas o que houve com minha pele? Não entendo, pois olho no espelho todas as manhãs. E… de onde surgiram esses fios de cabelo branco? Como em um piscar de olhos, percebi que eu não notava mais os detalhes ao meu redor, nem mesmo aqueles que fazem parte do meu próprio corpo. Entendi que em todas aquelas manhãs anteriores, eu havia olhado no espelho, mas sem olhar para mim mesmo. Percebi que o tempo não me avisou que minhas atividades estavam sendo executadas automaticamente. Lembrei-me dos últimos momentos que passei com minha família. Eu não os olhava nos olhos quando eles queriam contar-me coisas engraçadas dos seus dias. Não ouvi nitidamente o que aquela pessoa especial me disse na última vez que nos encontramos. Busquei em minhas recordações a última vez em que olhei para o céu, buscando colírio para meus olhos, mas adivinhe? Sim, as últimas cenas que meus olhos viram foram e-mails e mais e-mails de trabalho. Neste instante lavei o rosto, arrisquei mais uma olhada no espelho. Respirei fundo e… OPS! Hoje é domingo. O que estava fazendo acordado aquele horário? Não é dia de trabalhar nem ir à faculdade. Percebi que a situação estava mais séria do que eu pensava. Não quero mais ser engolido pelo tempo, muito menos fazer minhas atividades no automático. Sou humano e não um robô. Fui a um local de alimentação e escolhi tomar um café comigo mesmo, pois o tempo que passou não volta mais.

Você é importante, valorize-se!