A um grande amigo
São doces os momentos que passamos juntos em mútua simbiose... esses seus cachinhos caídos pelo rosto, a cerveja que eu nem tomo na sexta, a pizza compartilhada na mesa junto aos donuts e ao mumicate, essa sua febre disfarçada de nulidade... quase adivinho o que pensa, suas dores de uma cama semi-torta, esse seu eterno vai e vem entre ruas imensas, o café frio, o pão dormido de ontem, os pés gelados solitários e amaldiçoados, o dividir cúbiculos com semáforos que não abrem nunca, filas eternas que não andam, castigos no final do expediente, um olhar assustado e indiferente no meio da multidão, buscando buscando sentidos... mal disfarço a minha admiração, esse seu dom de guerrear no asfalto, os malditos skates quebrados que não nos levam a lugar algum... se pudesse te cederia com graça novos horizontes e algumas esperanças, mas como posso te dar o que não é? fica-se assim mutuamente, lado a lado resmungando as paralelas misérias, gritos reprimidos num peito que só sabe sentir, sentir demais... são doces os momentos de silêncio atento, doce o aguardar de mais palavras que magicamente traduzem o tudo de aqui dentro... já não posso viver sem sua presença, já não posso viver sem suas ausências... malgradada sorte essa nossa, a de sermos antípodas em rumos dispersos em antagônicos caminhos... só uma coisa te peço: não desapareça. porque por maior que seja o ceticismo de ambos, a ironia, esse olhar de certa repugnância diante de tanta merda, os passos lentos que nos levam rumo ao nada, eu te tenho amor. beijos from da hell.