a moça na janela
a moça na janela olha com desconfiança a vida passar apressada na sua rua
a moça na janela geme baixinho e disfarça as lágrimas e sorri pra vizinha que passa acenando e gritando, cadê sua mãe
a moça na janela perdeu faz é tempo a inocência a ilusão e a crença
a moça na janela só observa
as pessoas passam
os dias passam
pássaros passam de um lado pro outro nesse céu de tanto azul
até as travecas passam se rindo muito e ela não sabe o porquê
nem a razão de se rir de alguma coisa
a moça na janela tem um vestido floral
que é a única coisa de florido na vida infeliz dela
nem as rosas do quintal
nem as goiabeiras cheias
nem as margaridas dançantes
nem os arcos feitos com o cipó velho dos grandes chorões
lhe enfeitam mais os olhos
a moça na janela só aguarda a morte
em seus lentos passos
certeiros
se dirigirem a ela
nihil
always