O aprendizado de um burro

Dizem que quem persiste no erro é um burro. Não me vejo andando com quatro patas no chão ou com um rabo no traseiro. Mas, percebi que o cabresto que conduzia minha mente estava amarrado em meus neurotransmissores. Seu nome? Insanidade. Devido ao meu orgulho pouco trabalhado, auto-suficiência e racionalização de tudo o que acontecia ao meu redor acabei engavetando, dentro do meu próprio cérebro, a vivência de dias melhores.

Teoria na ponta da língua e prática bem distante da sola dos sapatos. Os pensamentos obsessivos foram crescendo. E os sentimentos estacionaram-se dentro de mim. Partilhas evasivas, falta de comprometimento comigo mesmo e pré-julgamentos, sem falar na minha falha para buscar ajuda quando estava mal, tudo foi desencadeando uma série de fatos tristes que duraram um ano e cinco meses. Período de vários auto-enganos, manipulações e vivência na doença dos pensamentos obsessivos, atitudes compulsivas e egocentrismo. E eu ainda achava que seria capaz de virar o jogo.

Mesmo sempre perdendo e com a progressão do problema, o egoísmo era marca do meu ser. Até mesmo para assumir a derrota. Com uma máscara no rosto, fiquei mais distante de mim mesmo. Vesti uma armadura de que um dia seria diferente e que eu encontraria o controle tão sonhado. Mas, fui golpeado pelo meu próprio organismo. Deus falou comigo e mostrou que do meu jeito não daria certo. Paguei para ver e acabei em um verdadeiro farrapo humano, desnorteado em uma realidade de escuridão, ilusões, fantasias e decepções.

Estive bem perto do outro lado deste plano que conhecemos. Cheguei a pisar nele. Ou melhor, caminhei, caí, fiquei manco e com um peso imensurável nas minhas costas. Meus olhos secaram, os lábios racharam e a pele foi queimada pelo calor da minha compulsividade. Portas trancadas, medo e perturbações. A fuga entrava e saía do meu corpo, amortecendo as sensações mais belas que a vida pode oferecer. Fumaça densa, pesada, queimando a minha personalidade, minhas qualidades e potencialidades. De mim, sobraram dores, vazio, arrependimentos, cicatrizes e a certeza de que eu estava deixando a luz divina para trás.

De repente, Deus mais uma vez iluminou a minha mente. A doença que me corroeu imensamente também mostrou uma porta para o novo, para o começo de uma ação que pudesse recuperar tudo aquilo que eu deixei se perder no tempo. E a chave, pelo incrível que pareça, está dentro de mim. Uma busca diária alicerçada na honestidade comigo mesmo, na boa vontade com o crescimento espiritual e na vivência da realidade como ela é.

Aprendi que os mesmos erros causam sofrimentos e grandes feridas. E a persistência neles buscando resultados diferentes é pura loucura. Também percebi que tenho pontos fracos que me derrubam numa vala suja, obscura e sem cura. Como posso pensar, escolher e agir para mudar o meu caminho, tenho certeza de que um burro não pode ser humano. E nenhuma pessoa comparada ao que não é.

Ladislau Laurácia
Enviado por Ladislau Laurácia em 24/11/2010
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