Mar Morto

Ela desejava conhecer o Mar Morto, queria comprovar de qualquer maneira que havia algo mais morto que sua própria carne em estado de putrefação bem camuflada. Assim como aquelas águas solitárias e impenetráveis ela era, também carregava o excesso de sal, que saia pelos seus olhos transbordantes de tristezas incompreendidas. Nada penetrava sua alma, e tudo que já havia nela parecia morrer cada dia mais.

Sem ao menos chegar à superfície para respirar, ela se afogava dentro de si, e assim como a vegetação dos lugares secos e áridos, ela vivia se entortando toda, tentando ser acolhida pela terra.

Ela tinha aquele olhar de esfinge calada, de quem havia sofrido por inúmeras vidas, que ninguém compreendia, ninguém decifrava. As vezes ela mesma chegava a se surpreender, descobrindo e redescobrindo segredos próprios, se perdia no labirinto que a compunha. Olhos que guardam segredos que nem ela sabe, que viram muito do que ela ainda não viu. A janela de sua alma estava explicitando que era mais antiga que o corpo que a protegia.

Os pensamentos que ela possuía pertenciam a outro plano, era mente de quem já viveu muitos anos além da imaginação, mente de espirito velho...

Então, tristemente chegou a uma conclusão: a única coisa capaz de se parecer um pouco com ela era um mar...

um mar morto.

[e que, ironicamente, iria matá-la]

Jéssica Valim Amâncio
Enviado por Jéssica Valim Amâncio em 13/07/2010
Código do texto: T2375815
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.