(meu)teatro

Larguei o camarote, cansei de assistir aos atos de auto-mutilação, de masoquismo de alma sem nenhuma atitude tomar. Há muito, os teatros só tinham em cartaz essa tragédia tão ridícula e tão comum. A melhor coisa que fiz foi abandonar o binóculo e o assento privilegiado, não vi mais a tentativa inútil dos atores de se camuflarem atrás de máscaras pobres, tentando esconder suas verdadeiras intenções, suas verdadeiras emoções. Por que todos nesse mundo insistem em ensaiar uma peça além de realmente encená-la num ato único chamado vida?

Subi ao palco e me mostrei mais limpa e crua que qualquer um já havia se mostrado. Meus arranhões à flor da pele deixei expostos, minhas feridas mal cuidadas deixei sangrar à olho nu, minhas marcas de passado (e pecados) deixei analisarem.

E esperei, esperei os tomates podres voarem em minha direção, esperei as vaias encherem meus ouvidos de decepção... Esperei me apedrejarem, me chicotearem, me colocarem presa numa cruz. Fechei os olhos e nada mais fiz do que esperar a punição por ser quem eu sou (já que diariamente me reupidiavam)

Quando os abri, vi que ninguém falava, ninguém sorria. Todos estavam me encarando e desejando a minha coragem, mas mesmo assim ninguém se postou ao meu redor.

Foram saindo um a um...

Como se a verdade machucasse a vista!

A verdade em cólera, transbordante. Não existia certo ou errado.

Apenas a sinceridade do meu ser pairando e enchendo todo o ar, e ninguém aguentou olhar.

Jéssica Valim Amâncio
Enviado por Jéssica Valim Amâncio em 13/07/2010
Código do texto: T2375814
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