Por trás da arte muito trabalho
Dia especial: hoje assisti um filme espanhol, lindo! Sobre a Guerra Civil espanhola, está bem. Porém, com o toque lírico de escritores que pintam dificuldades em narrar a si mesmos: uma jóia! Quase chorei ao final, confesso. Diálogos inteligentes, convincentes; fortes atuações; profissionalismo por trás das tomadas, de câmeras e decisões: isso pensei. Julgamento de valor puramente meu. Ninguém é obrigado a concordar comigo. Nem desejo que seja assim. Sei que saí daquela sala de vídeo com a sensação de ter investido bem o meu tempo livre – para alguns, "libero" (italianos que conheci!). Ítalo Calvino, Dante, Humberto Ecco – mesmo até um de seus ex-doutorandos. Volto ao filme – ou à película -, como "preferís". Estou brincando com as Línguas já faz tempo. Quem sabe em breve me torne lingüista – talvez esteja já eu assim: "linguada" – envolvida pelas línguas, palavras, unidades léxicas fragmentos de mim e desse meu mundo singular que insiste em se revelar – para mim sobretudo, claro! Assim como a escritora-personagem, da boca do autor daquele texto, más o menos: os personagens de uma historia estão vivos mas desconhecem o que os faz viver. Achei esta fala interessante e por isto reproduzo aqui. Foi o que ficou em minha cabeça, o que soou, o que me disse algo, além das caras, gestos, da música, fotografia e tantas outras pequenas coisas. Arte é algo realmente empolgante. Não se deve esquecer, no entanto, que por trás dela tudo o que resta é muito trabalho – disse um autor, ou diretor de filmes, ao receber um merecido premio. O filme mesmo, esse ainda não vi, não o de hoje, esse de outro dia, dele. Embaralho as coisas de propósito, sim. Venha você dizer que isto não é permitido, venha! É legal, digo. Por trás de certos nonsenses há muito sentido. Difícil é saber decifrar o código. Requisito principal é querer. Um autor verdadeiro, um que conhece o seu ofício, em quase tudo o que escreve – não digo tudo para não me complicar – desenrola a ponta de um emaranhado, codifica emoções. A chave é dupla, por vezes tripla: uma parte dos criadores, outra da criação. Incompreensível isto que digo? Que nada... Volto ao filme lindo, ao que conseguiu me tirar do chão os pés, calar a fala, afinar meus ouvidos para o refrão das palavras, melodia das ações. Não quero pensar em mais nada... Que fique apenas o sonido, como balas em uma batalha, do que não quero esquecer.