Não exija presença no seu funeral.

Quem não pode demonstrar felicidade, por ser sincero, vá tratando de se cuidar. Não demonstre tristeza, não chore, não se angustie e sobretudo, não expresse, não verbalize; as pessoas não estão interessadas na sua dor.

Deprimido? Morra, se esconda ou se encha de remédios, rápido. Ninguém tem tempo pra gente "doida", as pessoas querem brindar dia após dia a felicidade.

Cercado de dívidas e problemas domésticos? Morra, se esconda ou vá ao shooping, com um desses cartões que vai piorar suas dívidas e chame as amigas para ir junto, sente tranqulamente na praça da alimenação e o tremos nervoso de suas mãos atribua ao ar condicionado, ou resfriado. Ninguém aprecia gente "de verdade". Se você não consegue demonstrar a alegria que não sente não pode viver em sociedade.

Gordo, acima do peso? Morra, se esconda ou parta para a anorexia. As pessoas elegeram a magreza como corolário de beleza e você não é ninguém para contestar essa "verdade universal". Ninguém gosta de gente obesa e não malhada, pois "é certo" que gente assim é cansativa e desligada, além de - é claro - deleixada e incompetente.

Cabelo afro? Morra, se esconda ou faça uma escova definitiva e viva com a "chapinha" como se fosse um instrumento dos deuses. Ninguém é obrigado a conviver com seu cabelo enrolado e zoado, por que é sabido que só as pessoas de cabelo lisérrimo ( loiro e/ou com mechas tipo Miame) são "legais de verdade".

Enfim...se você não se enquadra no modelo, morra, se esconda ou se enquadre logo.

Afinal, você não é você; você não tem o direito de ter problemas, muito menos de encher a paciência dos outros com eles. O Prozac e afins existem para isso...eles te darão uma mão de tinta rosa nesse mundo cinza que você vê.

Não, não e não! Não conte com a ajuda de ninguém para sair dessa. Ninguém tem tempo de pensar nos outros, todos tem que se virar.

Enfim, se está mesmo muito dificil, morra logo e não exija presença no seu funeral. Já que você em vida foi tão obsoleto, não queira que as pessoas lembrem de você depois de morto.

(Aos meus carinhosos algozes)