Cem

Cem são os motivos para não fazermos nada, quando um único gesto seria o suficiente para iniciarmos o gesto seguinte.

Cem são as razões para andarmos cabisbaixos, olhando a sombra de nossas próprias pegadas, quando um único olhar em direção ao horizonte poderia incendiar de luz e cor nossos caminhos.

Cem foram as vezes em que choramos a dor da existência, quando um único sorriso seria o bastante para compreendermos que o que faz chorar não é a existência em si, mas, sim, o enfrentamento às Leis Universais que conduzem o ser humano.

Cem foram os caminhos que nos trouxeram até aqui. Outros cem caminhos se abrirão até que, cansados de trilhar rumos escusos, enveredemos pelo caminho do coração.

Cem noites nos trancafiamos em casa a resmungar da palidez da luz da noite, quando um único olhar dirigido ao firmamento nos diria de quanta Luz pulsa somente neste minúsculo pedaço de Universo que podemos abarcar com o olhar.

Cem noites foram as vezes em que, encharcados de auto piedade, maldizemos a vida, quando a palavra contida para além da auto piedade dava-nos conta do que nos ia na alma.

Cem flores compõem um grande buquê, porém não dão a dimensão de como é belo ver uma única flor brotar e suster a vida.