DÉCADAS
Aos 10 era só sonhos, vivia o momento, sentia cada gota da chuva que pudesse encaixar em minha boca e sentia um prazer enorme de correr sobre as enxurradas, chutando a água só pra ver sua cortina.
Aos 20 era só ato, sensação de que o mundo acabaria no minuto seguinte, ia a todas as festas, agendava compromissos, ahh... quantos amigos e quanta variedade de programas a ser feito, e a chuva era minha companheira nas partidas de futebol, nos namoros pelos cantos escuros da cidade.
Aos 30 era só razão, muitos sonhos se concretizaram, outros foram esquecidos e uns até ficaram no coração, mas talvez o endurecimento natural de tudo, tenha ajudado a me convencer de que eles não eram necessários "Ledo Engano". Alguns colegas, pouquíssimos amigos, uma vida corrida com todos os afazeres de um homem de família, e a chuva só me atrapalha, não faz mais parte de nenhuma emoção.
Aos 40 acabei de chegar, hoje sou um pouquinho de cada um, continuo com os afazeres de 30, mas sem a convicção de que são tão preciosos, voltei a sentir a necessidade de fazer algo hoje pra me sentir cheio de vida, e as vezes escondido, saio na chuva com a boca aberta e com os olhos fechados, pra sentir o gosto da irresponsabilidade. Remexo todo o meu passado a procura daqueles sonhos que ficaram guardados no coração, pois estes são os cromos que faltam para completar o álbum de minha identidade.