Gota de esperança
Sou o que chamam de cidadã do mundo, conheço lugares e não preciso de passaporte para visitá-los. Ando pela vida a à fora, para onde o vento me levar. Caminho, corro, debruço-me e às vezes até caio, mas continuo o meu caminho sempre do mesmo jeito.
Feminina como eu sou, concebo a vida; quando sofro, desfaço-me em prantos. Sou submissa, entrego-me aos outros inteiramente e sempre estou a disposição e nunca neguei nada ninguém.
Mas em minha mocidade eu Ra mais feliz, as pessoas me respeitavam, mexiam-me com carinho e só recorriam a mim quando era realmente necessário, as crianças me adoravam e, no finalzinho da tarde, esbaldavam-se em mim e sempre queriam voltar a me ver no outro dia.Eu nunca ficava sozinha, tinha amigos peixes que sempre me faziam companhia.Sentia-me Bonita e desejada.
O tempo passou, as cidades cresceram e com elas aumentaram os problemas, sugiram casas mais próximas com habitantes estranhos de roupas amassadas, barrigas inchadas e de olhares tristes e indiferentes. As crianças também cresceram, tornaram-se adultos mais fechados e mais maldosos, usam-me e abusam-me com tanta violência que chega até a doer, sujam-me constantemente com tudo que há de ruim e nem deixam seus filhos brincarem comigo.Meus amigos peixes não resistiram a tanta devastação.
Hoje me sinto magra e velha, não concebo mais a vida, aliás, preciso que as pessoas me dêem mais tempo para viver.Sou motivo para debate no mundo todo e até já fui acusada de causar guerra entre nações, não vejo motivo para sorrir, pois ninguém mais faz isso por mim, muitos me cobiçam, mas nenhum me regenera.Estou pedindo SOCORRO, quase que gritando, pois meu caso é grave e com tempo determinado para acabar.A minha vida vai se esvaindo em sangue negro de lama e meu coração sofre de um grande vazio onde só cabe a esperança.