O Poeta

Acaso não é o dom do poeta rimar seus sofrimentos?

Certo amigo me disse:

"Drama sempre esquenta a trama"

Que seria do poeta se não lhe fosse permitido explorar-se ao inverso e ao verso e do começo ao fim e ao longo disso ir inventando novos começos e imaginando diferentes fins?

Ao poeta tudo é permitido. Até mesmo sofrer imensamente por algo que poderia ser simples, mas aí está: ao poeta não convém o simples.

O poeta vive seus tormentos e faz questão de revive-los ao escreve-los.

É daí que temos de Fernando Pessoa:

"O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm."

É de uma forma tão louca que o poeta mergulha num rio de desesperos e gritos e prantos, que quase se afoga em seu exagero.

Mas ainda bem que temos nossos poetas embebecidos em suas loucuras não é mesmo?

O poeta é um ser exageradamente dramático.

Todo poeta sabe que tudo que escreve nada mais é do que seus momentos grandiosamente ampliados.

É tradição que vem de muitos tempos, poeta só é poeta se souber rimar seus sofrimentos.

Nem sempre é rima.

Mas sempre é poesia.

Tudo aquilo que o poeta toca, vira poesia.