Preciso gritar
Gostaria de trazer à existência um lugar só meu, onde pudesse soltar este grito que, neste momento, bloqueia minha traquéia e impede o fluxo do oxigênio para o meu organismo. Um lugar espaçoso, sem paredes ou gentes, onde o meu grito não encontre nem ouvidos nem ecos; nem empecilhos nem repouso.
Gostaria de trazer à existência a cura para o meu mal, ao passo que acho necessário que eu sofra, que eu sinta, que eu curta o luto do meu próprio corpo, para que as lágrimas da minh’alma que agora escorrem dos meus olhos deixem seu salgado sabor marcado, afim de que eu jamais as deseje novamente.
Gostaria de ter sonhado sonhos possíveis, de ter feito coisas aprazíveis, de ter caminhado devagar, de acordo com minhas curtas pernas.
Gostaria de ter chorado menos no passado para conseguir chorar mais agora. Mas ainda assim, continuo o mesmo sensível e insensato de sempre. Coração mole e armador, enganado, enganoso...entretanto, que não sabe enganar a dor.