A verdade é propriedade dos loucos e das crianças pequenas.

As crianças, tratam os pais de reprimir irrevogavelmente, ensinam-os a mentir, a malversar a verdade.

Lembro de que, quando tinha uns seis anos, disse aos pais de uma senhorita muito dadivosa e psicodélica, que minha irmã mais velha - por sinal tão dadivosa e psicodélica quanto a outra - havia me dito que a dita cuja era assim: dadivosa e psicodélica...com outras palavras, naturalmente. Fui reprimida barbaramente por minha mãe e tias e passei anos me sentindo muito mal por aquilo, me sentindo uma verdadeira imbecil por haver falado tão somente a verdae, que me foi dita por um adulto (minha irmã é doze anos mais velha que eu) com conhecimento de causa e da causa. E foi ai que aprendi a mentir.

Anos e anos mais tarde, por causa da minha ancestralidade - tem doido na familia a dar com o pau - acabei surtando, fiquei sob a guarda alheia, totalmente irresponsável; horas chorando por dias e dias, hora agressiva, hora sensível, como se houvesse me perdido dentro do meu próprio labiritinto dedalesco. Nestas ocasiões fui meu próprio Minotauro,e, posteriormente, fui também eu meu próprio Teseu.

Desse período, porém, me restou algo de bom; o título de louca e a licença irrevogável de dizer a verdade, sem me incomodar com as consequências.

Felizmente já sou "grande" e ninguém mais pode me reprimir - acho que por medo - e assim, apesar dos percalços, sou mais feliz hoje do que quando era "sã" e precisava, por ser adulta, mentir.

Ah! sim, e também foi, pela mesma época que tive o inegável prazer de conhecer o T-Rex, dinossauro (inglês, elitista, metido e, creio, gay) que me acompanha nessa jornada literária, como meu crítico mais ferrenho, e que se instalou em moradia definitiva dentro da minha cabeça.