Exposto

Essa manhã acordei nublado, e antes mesmo de lavar o rosto resolvi sair descalço pela rua, sem camisa, sem boné...senti a necessidade de experimentar o chão, o ar, o sol...mesmo correndo o risco de uma topada, de uma gripada, de um ardor de pele...

Passo devagar analisando a paisagem que me cerca. Hoje quero estar atento aos detalhes. Faço todos os dias este caminho, mas sempre vestido, sempre calçado, sempre com pressa...jamais havia percebido que por ali havia um pé de cidreira e mais adiante um abatedouro.

A vida me cerca...a morte me ronda.

Conhecidos me cumprimentam, estranhos passam por mim...vidas que vivem o mesmo tempo, o mesmo risco...cada um a sua dolorosa felicidade. A paz do Senhor seja conosco.

Sigo...caminho...não tenho destino. Não tenho um rumo sequer. Nem sei que horas são, ou quantas já se passaram desde que saí de casa...o tempo já nem faz tanta diferença. Sua influência ficou presa no meu relógio novo que sumiu.

Paisagens conhecidas, detalhes ignorados, pessoas queridas, humanos velados...

Cada um se deixando conhecer apenas até onde se quer. Cada um levando consigo um de si para cada ocasião. Todos políticos, todos atores, todos jogadores de xadrez. Um dia terno, noutro short, calça jeans, bermuda, black tie, sapato, chinelo, tênis, regata, blusa, camiseta, fantasia...ou até mesmo todos esses trajes no mesmo dia, em ocasiões diferentes...gírias, formal, arcaico, casual...

Caminhei e nem sei mais onde estou...ao redor não reconheço mais a paisagem...

Escrevi...e nem sei mais o que queria dizer...a vida e minhas escolhas me trouxeram a este lugar...ou encontro a saída, ou preciso me adaptar.

Marcos Sodré
Enviado por Marcos Sodré em 01/08/2009
Código do texto: T1731874
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