Nós e a distância.

De repente nós criamos uma distância tão grande, que poderia se tornar visível e palpável, se fosse possível. O tempo passa e nós achamos que poderíamos ser capazes de vencê-lo sempre, mas não. Ele nos consome a cada dia, e tira pouco a pouco o que ainda resta de nós, se é que ainda resta.

E então a distância foi ficando tão presente, que passei a chamá-la de amiga. E ela passou a preencher o espaço que deveria ser seu, o tempo inteiro. Trouxe com ela a saudade, que a princípio, me fez querer mandá-la embora imediatamente, mas que hoje, já não causa mais efeito algum sobre mim.

Mais uma vez reforço que o tempo tira pouco a pouco o que tem e ainda resta dentro de nós. E com isso ele levou tudo o que ainda mantinha aceso, um dentro do outro.

As ligações passaram a ser curtas. E a nossa voz já não nos faz lembrar de nossos rostos, pois o tempo também tirou as lembranças que até então, ficaram distantes em nossa memória. E nós aprendemos sem querer e sem saber que agora, então, conseguimos viver um sem o outro sem que contenha aquele desejo, ou aquele 'eu preciso' que tanto nos contagiava, quando podiamos nos sentir presentes, e não distantes. Aprendemos a caminhar sozinhos, perdemos a necessidade de compartilhar a vida um com o outro, e até mesmo a vontade de um precisar do outro. Todas essas coisas, o tempo conseguiu tirar de dentro de nós.

E então, você continua aí; e eu aqui. Você no seu mundo, e eu no meu. E o nosso mundo, já nem existe mais. E por fim, temos construído mais uma coisa sem notarmos. Um buraco. Há um buraco aqui, há um buraco aí. Há um buraco entre nós dois, entre nossas vidas. E é vazio.