Olhos Negros

Lembro-me do minueto do tempo que assoviava em um céu violeta de verão.

Mas não que isso tenha sido todas as graças de minha vida, na verdade; esses foram apenas tempos graciosos, que lembro com carinho antes de encarar essa longa estrada. E às vezes odeio ter que admitir que pareço tolo em insistir em certas coisas, como tantas coisas mais, mas, não faz sentido desistir com tanta convicção na minha própria mente.

Vejo meus olhos castanhos correndo pelas folhas de um caderno, vejo anjos caindo do paraíso em desgraça e também sinto o cansaço do meu corpo. Mas, o que eu procuro? Todos sabem que é o toque da dama que eu amo mais que minha própria vida. A mesma dama que me tira noites de sono, que me entrega sonhos inimagináveis sem mesmo saber.

Ou talvez eu intimamente saiba que cada sonho é esse, na verdade, tenho quase certeza de que sei quais sonhos se tratam.

Mas no fritar dos ovos, o que somos afinal, ou o que buscamos? Eu busco o beijo da minha dama que mora no planalto central. Essa mesma dama que me deixa alegre mesmo que já não seja mais minha, essa mesma dama que me faz ter um calor fenomenal surgir em meu corpo e demasiadamente forte, deixando-me estarrecido com tal sensação.

O que ela é para mim, se não toda a minha alegria concentrada em um único ser vivo? Quem é essa garota, que eu chamo por apenas três letras, às vezes, duas, ou quando falo de forma doce – ainda assim, chamo-a de ‘meu amor’. Não sei Não sei explicar dela. Não sei explicar nada, apenas escrever e sentir. Mas vivo me perguntando, o que aconteceria se meus olhos castanhos virassem olhos negros e vazios?

Não sei, acho que é meio deprimente – e um tanto quanto melancólico ficar imaginando isso, quando os olhos perderem o brilho – deixarem de ver, como muitos dos meus ídolos que nasceram algumas gerações antes de mim. Ah, sim, meus ídolos são de gerações passadas e agora me vejo a pensar: Como o mundo vai ser sem eles, assim como me perguntei como seria do mundo sem os seus dois reis agora.

E qual é o meu lucro? Não sei, não penso em lucro, quem pensa em lucro é apenas aqueles vermes que pensam na futilidade do mundo. Eu penso em lucro, meu lucro é o sorriso da doce dama que tanto amo, e um obrigado singelo e com uma voz um tanto quanto abatida no telefone. Abatida? Sim. Eu ainda te conheço melhor que ninguém, meu amor.

Eu comecei esse texto pensando em escrever um conto, mas, entretanto, o conto que contaria é tão triste e irreal que decidi apenas escrever. Escrever o que me vem na mente de olhos fechados para a realidade, ou talvez, abertos demais para algo que chamo coração. Podes me dizer, se realmente estamos na realidade?

Novos laços vêm e vão, mas escolhemos se nascem ou morrem. Eu decidi seguir por um caminho de mártir, e isso é algo aceito por mim, não que me vanglorie, não, a vanglória vem depois de se ir, quando já não somos mais nada além de memórias para quem amamos e quem deixamos para trás.

Então por que me sinto tão só, quando ela estava graciosamente entreposta aos meus braços, eu sentia-me completo, meu coração não batia tão doloridamente, eu não tinha tantas lágrimas salgadas nos olhos, que simplesmente não consigo derramar, elas travam neles e não caem, simplesmente se negam a cair e eu fico cada vez mais, e mais, só.

Como um ídolo, um rei, sonho que ela me cante essa música, com sua voz desafinada e o inglês estranho dela: Sim, ela sabe muito bem do que falo. Mas, espero, porque não quero estar sozinho, entretanto, não quero que ela encare e veja que ela realmente é a criação mais importante para a existência desse tolo homem que vós escreve.

Sei que essa frase não ficou compreensível, ela é a pessoa mais importante da minha vida, meu ar e minha inspiração. Minhas promessas para ela são como votos religiosos, mas sem ser como muitos dos hipócritas que não mereciam serem considerados homens do tal chamado por “Deus”, sou um homem de palavra.

Quando digo que nunca te deixarei, é porque sempre estarei por perto, puxando tua orelha se fizer algo que possa te machucar. Quando digo que vou te ter de volta, é porque sei que posso, sei que somos feitos um para o outro, nascemos um para o outro, eu consigo ver isso tão claramente, com meus olhos castanhos.

Queria te lembrar sempre que estarei junto, estarei por perto, perto de ti. Inúmeros indícios dizem quando os olhos castanhos irão receber o breu do silêncio, é por ti. A morte de um mártir, morrendo pela sua ‘causa’, morrendo por sua ‘deusa’, é o meu dever, viver e morrer pra ti, mesmo que nunca seja reconhecido.

E minha única lamentação é ter feito você chorar algum dia.

Mas pergunto para ti, meu amor, do fundo do meu coração. Do fundo da minha alma. Como se cada gota fosse um cálice de vinho completo, e ele estaria derramado nessas linhas: O que vais ver quando olhar para os meus olhos e eles estiverem negros?

Quando a minha voz não falar nada mais que silêncio. E tudo estiver encaminhado para o fim, será que lembrará de mim como lembro de ti? Será que notará que eu faria qualquer coisa por ti? Não sei.

Só espero que tais respostas não demorem até meus olhos ficarem negros. Que meus olhos castanhos têm muito amor para te dar, e tu deves imaginar isso, o quanto minha alma dilacerada pede por ti, minha amada, pede por ti.

E que veja no fundo de mim, o que eu faria por ti. Mas não, não quero que isso demore, até virem os Olhos Negros.

Tanauã Dias Martins
Enviado por Tanauã Dias Martins em 29/06/2009
Código do texto: T1673878
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