Pequenez.

Ela olhava de cima do terraço do mais alto prédio que conseguiu achar, e de lá percebeu o quão pequeno é o ser humano. Que humilhante, subir tão alto pra ver a enorme pequenez do seu próprio ser. A partir desse momento ela sentiu todos aqueles sentimentos de revolta que sentimos quando percebemos que não fazemos a menor diferença diante da imensidão do mundo, queria se fazer ser notada, ser vista e não somente olhada.

Mas chovia...

e a chuva cegava tudo aos olhos alheios. Parecia que só os dela enxergavam mais nitidamente em dias assim. Dias frios e chuvosos, nos quais ela conseguia ver a própria alma refletida nas gotas cristalinas à cair. Quem sabe em outra vida tenha sido chuva [ou então tormenta, tempestade.] Ela começou a abrir os braços o máximo que podia, e mais uma vez percebeu que não era nada, que limitação somos nós. Lembrou das pessoas que conheceu, da família com a qual viveu, das garotas e garotos que namorou, e pensou se faria diferença ou se teria acrescentado algo na vida de algum deles. Pois ela sabia que eles estavam ali junto dela, todos eles ,formando cada pedacinho do seu ser. Como ela costumava dizer: 'minha alma é um retalho de pessoas'.

E ela queria sentir o mundo, foi para a beirada do telhado... ali não havia nada prendendo-a, nenhuma rede de proteção ou barras. Quem sabe sentiria se se jogasse? Se desafiasse as leis da gravidade?

Ela respirou aquele ar frio e gélido, sentindo as gotas molharem seu rosto tão insignificante (ela pensou), tão sozinha (ela se viu.)

Esticou a perna, deu uma rodopiada de bailarina [movimento que trazia da infância, das inúmeras aulas de ballet que havia tido]

Mas deu meia volta e se sentou...

Sabia que era pequena, mas ali, depois de sentir aquele turbilhão de sentimentos...

Ela se sentiu maior, mais forte, mais rígida, mais verdadeira que o próprio concreto no qual se enconstava.

Jéssica Valim Amâncio
Enviado por Jéssica Valim Amâncio em 01/06/2009
Código do texto: T1626901
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