Coração: cidade desolada.
O céu desabou em trevas sobre minha cabeça. Não reconheço a paisagem, nem consigo vislumbrar o horizonte. A previsão anuncia chuvas torrenciais e ventos impetuosos e devastadores. Não há por perto uma árvore que eu possa abraçar para tentar resistir. Estou vulnerável a qualquer oscilação. O mar se armou em ondas contra mim...a cidade do meu coração está inundada e assolada. Não há botes...não há uma saída sequer.
Fui pego desarmado, sem cordas, sem rádio, sem uma mão de socorro. Não há como comunicar-me. Não há a quem recorrer. Estou sendo submergido pela lama que tem se formado. Já não tenho forças. Já não tenho ar. Já não tenho vontade.
Os raios do sol há tempos já não se fazem sentir... meus ossos estão quebradiços e minha pele mui sensível. As correntes me tem levado pelas ladeiras. Tenho me chocado em postes e muros, em escombros e restos daquilo que um dia foi construído.
Estou desfigurado, sinto isso...talvez se me encontrasse frente a um espelho não me reconheceria. Não me reconheço olhando para mim mesmo, neste instante. Minha voz trêmula revela meu temor e minha falência...não vislumbro a salvação...não sei o destino dos outros habitantes...
Meu corpo já etá tomado...dou minha última inspiração com o nariz para fora...não há mais tempo...afundo...mas permaneço com as mãos voltadas pra cima...