Domingo Maior

Às vezes uma sensação de bem estar me vem.

Ela traz lembranças da infância.

Numa época que me sentia mais livre.

De alguma forma "eu" já fui livre e corria livre, quando era pequena.

Quantas vezes eu ficava em cima da árvore no fundo do quintal observando o mundo.

Ficava escondida bem na copa para ninguém me ver.

Meu corpo era leve e como era bom correr só para sentir o vento em meu rosto.

Eu não possuía grandes preocupações.

Minha preocupação era não perder o domingo maior no domingo.

Como era legal a família reunida para assistir o filme.

Às vezes morta de cansada de tanto brincar eu adormecia no sofá.

Meu Pai dizia: _Acorda Lana já vai começar o filme!

E eu ficava vidrada com aqueles personagens e a forma como eles despertavam as emoções de meu Pai.

Se havia algo engraçado eu não entendia.Mas morria de rir simplesmente porque meu Pai desabava na gargalhada.

Então eu e meu irmão começávamos a fazer barulho.

Tudo virava uma algazarra.

Pulava em cima de meu irmão e de meu Pai.

Minha mãe dizia: _ se fizer barulho depois da meia noite o lobisomem aparece.

Eu e meu irmão nos aquietávamos.

O que mais me atraia era o comportamento de meu Pai.

Como ele fazia cara e bocas e vibrava.

Dava pulos no sofá quando o mocinho dava uns petelecos no bandido.

Eu fazia de conta que estava entendendo tudo.

Na verdade o filme não importava.

Estar ali era o mais importante.

Por isso eu não perdia o domingo maior.

Já bem tarde ficava impressionada por ver que todos já dormiam e eu ali acordada agarrada às cobertas.

Deixava apenas os olhos de fora pela fresta da colcha me escondendo do escuro e do silêncio.

Então eu rezava.

Laninha
Enviado por Laninha em 15/05/2006
Reeditado em 04/12/2009
Código do texto: T156562