Evolução

Entro aqui e olho as paredes... tudo está igual. Exatamente como deixei há tempos atrás. Não que as coisas não tenham mudado. Mudaram, sim.

Esta é minha primeira visita após minha estréia na casa dos quarenta anos. Foi uma passagem tranqüila, essa. Esperava algo mais impactante, alguma coisa como ver o zepelin dourado ou passar debaixo do arco-íris. Passar para os quarenta foi mais real e praticamente indolor, como quando passamos pelo trópico de capricórnio na estrada:você passa por ele e nada acontece. Nem dói! Só se sabe que ele passa por ali, te corta e sugere alguma direção.

Fazer quarenta anos tem lá suas vantagens. Suas impaciências são perfeitamente digeríveis. Em contrapartida, ninguém perdoa uma infantilidadezinha sua...quantas contradições! Afinal, não vamos nos tornando crianças na velhice? Por que não podemos decretar que o processo se inicia agora, aos quarenta?

O amor, aos quarenta, tem vontade própria. É ele que nos escolhe ou abandona. Não nos damos mais ao luxo de fazer a feirinha sentimental que nos permitíamos fazer nos vinte ou trinta...Aos quarenta, nós é que estamos exibidos em gôndolas. E fazemos isso com maestria, acreditando na sapiência adquirida com o tempo de que é dotado o sentimento humano...

Pensar, aos quarenta, é ainda mais cansativo. São dez anos a mais de matéria prima e dez anos a menos de energia física...