Eu, Ele ou Ela?

O mais estranho é que nunca saberão de quem falo.

Se é de mim, ou dele, ou dela.

É magnífico como nessa linguagem, no presente,

Pode-se conjugar uma primeira ou terceira no singular

E ainda assim deixar tudo oculto.

Oculto a ponto que jamais saberiam.

Pensemos um pouco: sou eu, ele ou ela?

Não se sintam culpados por não decifrar.

Num belo poema a melhor forma não é distinguir um soneto,

Entender um redondilho ou, quem sabe,

Preferir uma medida nova;

Num belo poema além de entender – seja como for aquilo que lhe vier –

É preciso sentir.

Trata-se de um poema metafórico.

Agora, se mesmo assim não entenderem, aí sim se sintam culpados...

É aquela velha culpa de deixar algo passar;

Só que dessa vez é imperdoável.

Só existe uma resposta para seus erros e não entendimentos,

E sabe-se bem onde encontrar essas respostas.

Não... Não se confunda de novo procurando em mim,

Nele ou nela.

É só uma questão de sentir e esse sentir é bem mais simples.

Eu sei, parece ser mais difícil que as respostas.

(...)

Não seria tão mal culpar alguém por isso.

É isso mesmo que fazemos.

Palavras e letras são aliadas de peso,

Porém irremediavelmente ásperas.

Seria como dizer algo olhando o tempo passar ao acordar de um dia cinza revolucionário:

- Quero culpar alguém!

- Mas por quê?

- Me ensinaram tudo ao contrário do que deveria ser!

Meus dogmas, crenças; a filosofia da minha vida foi corrompida.

Agora cultivo medo.

Sei que não é errado o medo, ele é uma certeza, mas antes fora treinado de outra maneira.

Agora penso: nasci culpado por erros alheios.

São eras, décadas e homens errados.

Consegui por tudo isso um nova alcunha:

Me chamam de homem-âncora.

Mas num clarão de loucura percebi toda minha essência;

Sim, talvez não seja a essência dos outros,

Mas foi bom ter “renascido” herói! – herói de mim mesmo.

A melhor vantagem agora é ter a noção real do que somos capazes, os humanos.

Pensem bem. . . Anteriormente as respostas não surgiam;

A dúvida era a minha sequela.

Ser a glória de alguém era incompreensível, mas agora, sou herói; ou melhor, somos heróis.

Um próximo passo é escolher ser fraco, forte ou menino.

A força vem do não se destruir nessa mesma sucessão.

Por isso repito que as respostas estão sendo procuradas no lugar errado.

***

Ai, acabo de sentir coisas estranhas;

Sinto-me acordar nesse momento.

Mas logo percebo: eu dormia profundamente e ainda assim parecia real.

Trabalhos devidamente feitos pelo inconsciente. . .Fantástico!

Concluo: nesse breve espaço de tempo eu vivia meu Eterno Retorno.

Incrível, as sucessões me fizeram exaltar!

E minha definição para todas estas longas metáforas arrojadas de duplos sentidos:

No mais, eu chamo de literatura essencialmente gramatical e filosófica toda revestida de falsas métricas e uma breve lacuna toda colorida de metalinguagem.

- Assim somos feitos e iguais as letras.