Morte e vida de um texto
Existe uma contradição póstuma no fato consumado de um texto. Fechar uma criação é sempre como um óbito.
Diriam os mais apaixonados que escrever é fazer sexo com o papel, despejar-se de amor no ato de criar. Nesse caso um texto completo seria como um filho que nasce após o ato e o aguardo. Isso não é verdade.
Eu bem diria a tais românticos que um texto se assemelha a um bebê. Tal como sua concepção pode ser ou não desejada, seu ato pode ou não ser forçado, ao nascer pode ou não ser querido... Mesmo assim a simplicidade de um bebê, por mais linda e inspiradora que seja, mal pode ser considerada para descrever a complexidade de um texto.
Mesmo no mais simples “Amor/Humor” um texto se complica. Não por que tenciona se complicar, mas por que traz complexidade em si. Um texto pode falar de tudo e não dizer nada. Pode não dizer nada e em seu silêncio falar tudo. Pode ser triste ou alegre, agitador ou pacificador, belo ou feio, surpreendente ou óbvio.
Talvez por isso um texto se assemelhe mais a uma vida. Nasce como uma idéia, vive através do lápis, da caneta, do teclado, sobre um caderno, uma folha, uma tela... Traz em si as experiências de uma vida, discorre sobre si mesmo e entrega sua personalidade, às vezes na cara, às vezes nas entrelinhas. Algumas vezes é rapidamente concluído, outras perdura por uma eternidade em sua construção. Mas morre ao ser publicado. E tal como uma pessoa, em seu óbito, será ou não lembrado pelo que tem, pela forma que mostrou o que há dentro de si.
Ler é ter o relato de uma vida, uma experiência na vivência de um outro. Escrever é brincar de ser Deus no milagre da criação, na beleza dessa imperfeita perfeição que é viver, no ato de morte que é dar um texto ao mundo, para que em seu óbito ele seja lembrado.
Se for assim, eu gostaria de matar um pouco mais.