A Arte do Palhaço Fétido
Mordendo os lábios ainda adocicados de mentira...
Fechou os olhos diante do público
E ensurdeceu diante dos aplausos levianos.
Ainda ajustando o nariz vermelho, sorriu e sorriu e sorriu...
A platéia estava em frenesi,
Bravo, bravo!
Cheio de brilhos e tintas...
O picadeiro reluzia a cada cambalhota.
Aplausos, o palhaço ria.
Ao fim do espetáculo, apagam-se as luzes... o sorriso esboçado é desmanchado...
O pobre bobo está só,
E o palhaço soluça... grita, rasga-se.
Não tem mais público, nem aplausos, nem pintura... nem sorriso.
E chora o bobo, o estúpido bobo.
Dormiu impunemente debruçado em sua tristeza.
Acode, acode... raiou o dia...
Se veste, se pinta... é mais um dia de sacrilégio.
Ainda refazendo a pintura, apanha o nariz num canto qualquer e sorri.
Sorri sangrando o coração.
Abre as portas do camarim e salta às gargalhadas...
Sufoca os suspiros... alegria, alegria.
Coloridamente exala graça.
Aperta bem os olhos,
Balbuciando gratidão...
Bravo, bravo!