Cartas Sóbrias III - À Pantera
Mergulho na mais profunda depressão da minha alma. Lá, encontro a vida – ou os seus resquícios – juntos aos mais bizarros pesadelos. Os anjos cantam, em suas marchas fúnebres, as dores e manchas de meu coração já negro e sem vida.
Porém, a sua negritude vem de uma pantera, que habita as profundezas da minha alma. Qual um relâmpago, em todas as carências de meu peito, sobe então à mente, e, com a maestria do mais antigo ourives, modela meu coração mediante a incrível precisão de suas garras.
E então, faz de meu peito sua morada, até que, contra a tua vontade, uma figura humanóide toma seu lugar, e a prende na mais profunda masmorra, no mais grilhado cárcere de minha alma. E, com a audácia de Houdini, a bela pantera rompe as correntes e retorna ao meu peito, onde é eternamente bem-vinda.
Oh, bela pantera! Aproveito tua atual estada para torná-la definitiva! Não me abandones, e tenha o meu peito à tua vontade. Seja a eterna companheira e saberei, que mesmo quando eu estiver só, tu estarás comigo, guiando os meus passos e as minhas ações. Tomas o meu coração às tuas garras, e o modele à tua vontade. Minha vida é tua, e, bela pantera, saberei que não estarei solo, pois sempre terei a tua garra sobre o meu peito.