Número dois
Intitulei este pequeno trecho mal redigido de número dois, não porque você é realmente a número dois que sua mãe e eu tivemos a sorte de receber em nosso lar, para proteger e educar, visando um menor sofrimento no meio dessa sociedade insana, mas, porque você é a número dois prestes a alçar vôo, para longe do ninho que até hoje te acolheu. Sempre estive ciente de que mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer, como aliás, é uma regra milenar imputada no seio das sociedades familiares mundiais. Ainda bem que tenho plena convicção de que você soube escolher o par perfeito, para te acompanhar na longa jornada por ti escolhida livre de interferência, assim espero.
Mas, quando um pai realmente se descobre um verdadeiro pai, teima em relutar contra a perca do domínio sobre seus rebentos, acha no direito de pelo menos dizer alguma coisa que posa amenizar suas preocupações com o novo rumo tomado por mais uma de suas pedras preciosas, lapidadas com muito carinho. Só resta então a este velho e rabugento protetor, solicitar ao protetor Maior que os ilumine na busca da tão sonhada felicidade a dois. Meus olhos as vezes se molham, mas eu consigo a muito custo segurar o que muitos chamam de lágrimas e eu, de dor. Vá pequena, mas vá com a consciência tranqüila de que para trás só deixará flores no belo jardim que plantastes em nossos corações.
Nosso penúltimo desejo, sim penúltimo porque o último não nos pertence, é de que em sua felicidade, quando um dia plena, deixe um cantinho para que possamos contigo aos céus agradecer a honra de tão longa vivência superando todos os obstáculos que tivemos de transpor juntos. Seja eternamente feliz. Seu pai.