A LÓGICA DA ILIMITAÇÃO DIVINA

Deus é “ilimitado em suas potencialidades” à medida que é onipotente, onisciente e onipresente. Essa ilimitação que o caracteriza o deixa insuperável em todos os aspectos.

Acredito que tal fato seja racionalmente compreensível. Vamos pensar juntos:

Se é racional crer que toda criatura é menor que seu criador, também o é a crença no fato de que as mesmas (ou seja, as criaturas) não o podem superar, seja em obras, pensamentos ou qualquer outra coisa.

Não é difícil encontrar pessoas que “acreditam” na ilimitação de Deus — isto incute-nos a nossa cultura, desde que nascemos. A questão que surge, sobre a qual pretendo discorrer, é a seguinte: até que ponto tal fato é racionalmente inteligível?

Para examinarmos tal questão, permita-se imaginar o seguinte fato:

É-lhe dado o poder de sair do domínio divino. Você está agora fora do controle dele e pode observá-lo bem como observar também a sua relação com toda criatura e a relação desta com ele. Considere, ainda, que no processo de observação surge algo surpreendente: você descobre que Deus não é ilimitado. Essa consciência, no entanto, só foi possível graças a um fator: foi-lhe dado também o poder de comparar Deus e sua realidade a outros seres iguais a ele e a outras realidades iguais a dele.

Agora, responda a essa pergunta:

A sua descoberta poderá mudar o ponto de vista das outras pessoas, as quais não puderam nem podem olhar a realidade da existência divina a partir do mesmo ponto de observação do qual você olhou e com as mesmas capacidades intelectivas que você recebeu naquele momento?

Certamente não! — não podem comprovar o que você comprovou...

Isso prova que, mesmo que Deus fosse limitado, conforme “atestou” a hipotética observação, ainda assim seria ilimitado a nós, seres que, submissos a ele, não o podem superar, olhar além dos “limites” ilimitados que a sua existência nos condiciona. Em outras palavras, mesmo que Deus fosse limitado, nós não teríamos a capacidade, na realidade em que vivemos, de vê-lo dessa forma.

Continuando o nosso raciocínio, considere ainda que esta “realidade”, a partir da qual você observou Deus, não existe — é apenas fruto da sua imaginação. Igualmente, os seres aos quais você o comparou, bem como as realidades com as quais você comparou a realidade dele, não existem. Só Deus, que é o tudo, existe. Logo, ninguém pode observá-lo, estando fora dele. Ele é e sempre será ilimitado para todas as criaturas, posto que nenhuma delas o pode observar estando fora dele — o “fora dele” não existe.