Apenas eu
Não posso atribuir a “outro eu” aquilo que parte de mim mesmo, e não de outro; pois sou apenas um, ainda que feito de fragmentos de mim. Fragmentos imperfeitos; que por vezes não se encaixam, não se entendem, não se acordam. Mas sou apenas eu e minhas próprias limitações, minhas próprias contradições, minhas próprias dúvidas, minhas próprias descobertas, minha própria guerra, travada em mim mesmo.
Tenho vinte e quatro anos e ainda não me conheço. E por vezes não me reconheço. Mas quem é que se conhece por inteiro? Quem é que nunca se auto-surpreendeu com uma atitude? Um gesto? Um sentimento? Uma palavra? Quem é que se conhece? Diga-me. Ensina-me! Talvez Deus nos conheça, e por isto seja tão benevolente.
Sinto a necessidade de lavar as mãos. Elas estão maculadas de sangue. As lavo. Mas não as lavo numa atitude “pilatiana”, como quem se exime da culpa. As lavo repudiando-me, como quem deseja apagar uma mancha indesejada. Este sangue é do meu próprio coração, ferido de morte em minha guerra. Este sangue é de também de um coração interiorano, bárbaro, direito, que minha inconseqüência acabou por ferir.
Perdoem-me corações, por seu eu tão afoito, tão incontido, tão juvenil, tão nocivo. Mas creio...há de passar. Como tudo que vai...que passa; e “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”. Quanto a mim, como no caso de picadura de serpente, meu próprio veneno me há de curar.
Se não me (re) conheço, ao menos me (re) encontro; sendo apenas eu.
Este sou eu. Apaixonado, inconsequente, aberto, imprudente. No entanto, suplico, não me tenha por contencioso. Não permita que minha queda faça esquecer minha postura; que meu gaguejar suplante minhas palavras; que o brilho dos meus olhos sejam ofuscados no momento em que pestanejo. Mas pese minha queda e minha postura; meu gaguejar e meus poemas; meu cochilo e meu olhar. O resultado será apenas eu, imperfeito em mim mesmo.