O que somos afinal? Quem precisamos nos tornar? Qual o rumo da civilização?
Ser humano é experimentar sentimentos primitivos como o egoísmo e o orgulho, para dizer os mais catastróficos na relação com outro humano. Pode alguém ser orgulhoso (a) e egoísta na relação consigo mesmo (a), e pode alguém relacionar-se apenas consigo mesmo (a), sem que nada exterior interfira na constituição desses sentimentos tão nocivos à relação entre duas ou mais pessoas? Esta questão pode ser desdobrada, quer dizer, dita em outras palavras. Onde devemos buscar a origem do sentido de tais sentimentos? Estariam eles na natureza humana? Uma coisa é certa: uma pessoa só admite ser orgulhosa e egoísta porque uma outra pessoa com a qual ela se relaciona mais intimamente foi capaz de dizê-la, com ou sem constrangimento: “você é uma pessoa egoísta!...” A consciência que uma pessoa tem de ser egoísta não é uma consciência pura, mas é um aviso sócio-cultural, isto é, um saber que vem de fora para dentro, o qual se aceita ou não, com ou sem culpa. Se toda relação social exige a extinção quase total de sentimentos genuinamente humanos, a civilização significa lapidar o humano deixando nele somente o que é bom para se viver em coletividade, o que implicaria numa blasfema do ponto de vista cristão: Deus criou o homem para viver no paraíso, do qual ele fora logo expulso intermediado por atitudes genuinamente humanas, mas logo ele se apercebe numa outra comunhão, onde as regras continuam severas, onde também não é permitido ser aquilo que mais genuinamente se é: “humano”. Antes de se importar com a origem desses sentimentos que a cultura Ocidental mostrou através da filosofia, da moral, da religião e das ciências sobre o homem, como fundamentais para caracterizar o “ser humano”, é preciso fazer uma pergunta sem piedade: o que somos afinal? Talvez uma segunda pergunta seja mais pertinente, já que não vivemos isolados: quem precisamos nos tornar? Qual o rumo da civilização? Mistério que permanecerá dilacerando a harmonia entre os humanos de pouca “fé” e de pouca reflexão.