O HOMEM QUE NÃO TINHA SORTE

No livro Sapos Fervidos ou Ossos Dançantes, Braga conta a história do homem que não tinha sorte. Diz que por isto ele vivia se lamentando na cidade em que morava, ao ponto de as pessoas cortarem volta para não esbarrar com ele. Certo dia saiu pelo mundo a procura de um sábio de quem ouviu falar que tinha a solução para todos os problemas. Passando por uma floresta, encontrou um lobo muito desanimado, fraco, sem muita vontade para nada, que lhe respondeu não saber o porque de estar assim e logo pediu-lhe que expusesse ao sábio seu problema para ver se teria a resposta. Deixando o lobo, o homem deparou-se com uma árvore muito grande, porém murcha, quase sem folhas, meio ressecada, na beira de um lago. A sua pergunta, a árvore respondeu que não sabia porque estava assim, mas que contasse seu problema ao sábio para ver se teria a solução. Mais adiante, numa casa maravilhosa em meio a um campo florido, o homem encontrou a mulher mais linda que já vira, mas ela não parecia bem, com um olhar melancólico. À pergunta do homem que não tinha sorte do porque de estar assim, a mulher respondeu que não sabia, mas também pediu-lhe que expusesse seu caso ao sábio e esperaria por uma solução.

Após estar com o sábio, o homem que não tinha sorte retornava feliz por causa da solução que encontrara. Passando na casa da mulher, ela indagou-lhe sobre o que o sábio tinha dito para solucionar o seu problema. Ele respondeu que sua melancolia se tratava de solidão, mas o sábio lhe indicara que encontrasse um homem e se casasse. Satisfeita, ela sugeriu que se casassem, mas ele recusou, dizendo que o sábio lhe dissera que devia aprender a agarrar as oportunidades e ele precisava correr para sua cidade para fazer justamente isto. Ao passar pela árvore, ele contou-lhe que seu problema era um grande tesouro enterrado em sua raiz, impedindo-a de abastecer-se da água do lago. Bastava que pedisse a algum homem para retirar o tesouro e ela ficaria saudável e viçosa. Satisfeita, a árvore pediu-lhe que fizesse isso, mas ele recusou-se, dizendo que não podia, pois precisava correr para agarrar as oportunidades. Ao encontrar o lobo, disse-lhe que o sábio falara que seu mal era fome, recomendando que tomasse mão do primeiro idiota e o comesse, recuperando a força. E antes que o homem pudesse escapar, o lobo tomou toda força que lhe restava, agarrou-o e devorou.

Moral da história: Talvez a falta de sorte esteja em desperdiçar grandes oportunidades de ajudar os outros, por pensar de si mesmo como tendo recebido poucos favores, o que pode estar se dando por uma certa incapacidade em satisfazer-se, não reconhecendo o valor das pequenas coisas boas e, consequentemente, não conseguindo reconhecer as grandes oportunidades.

Talvez sejamos muito exigentes. Isto não seria orgulho?

Pense nisto.

Wilson do Amaral

Bê Hauff Witerman
Enviado por Bê Hauff Witerman em 30/05/2008
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