A DOMA DOS ANOS
A DOMA DOS ANOS
E a tropilha dos Setenta,
Já está a tempo na Mangueira.
Todos os pingos de primeira,
Domados ao longo dos anos,
Nos velhos rituais pampianos
-quebra de queixo e manuseio-
Nunca me fizeram feio,
Isto, em qualquer situação,
Sempre seguros no freio,
Ao toque leve da mão.
São todos mouros prateados,
Troteiam, com altivez,
E marcham sob cadencia,
Mostrando força e valor,
E em qualquer iminência,
A que a vida foi me atirando,
Eu sempre os vi, avançando
Como em uma carga de lança,
Me enchendo de esperança,
E me deixando a certeza,
Que com pingos de tal natureza,
Ninguém me veria recuando !!!
E a cada ano que passa,
Eu domo um pingo diferente,
Que chega, certo, para mim !
Amanso de baixo e de cima,
Quebro o queixo - se é fogoso,
Mas se é manso e jeitoso,
Eu deixo que siga assim!
Para se incorporar a tropilha,
Que é fruto dos meus cuidados,
E se soma aos já domados,
Assim se tornando mais um,
Que na lida simples e comum,
Vai trançando a minha existência,
Com calma e muita paciência,
Mostrando-me todo o dia,
Que a tropilha que tem essência,
Fica num fundo de campo,
Da Estância da Sabedoria.
Os potros da juventude
Que eu encilhei, já vão longe,
E os potros da meia idade,
Que foram os mais caborteiros,
Hoje parecem terneiros,
Que andam pelos potreiros,
Em manadas ou sozinhos,
Berrando por toda hora,
Procurando ontem e agora,
Uma têta de carinhos.
E assim que fico esperando,
Mais um potro me chegar,
Para eu também, o domar,
Embora sem conhecê-lo,
Mas com calma e muito zêlo,
Nós vamos nos aparelhar,
Ele mostrando o caminho
Que eu preciso trilhar,
E eu lhe encilhando com jeito,
Com o basto bem apertado.
Tudo arrumado a preceito,
Para que eu esteja preparado,
Se resolver corcovear.....
Esta tropilha é a fortuna,
Que muitos não obtém,
Só o sabe quem a tem,
Em mangueira ou seio de laço,
E com a força do braço,
Vai levando pela frente,
A vida que muita gente,
Já perdeu nalgum sogaço.
E o cantor da fronteira,
Se queda em reflexão,
Um pouco acima do chão,
Qual pica-pau em tronqueira,
Pois quer se queira ou não queira,
O tempo, não faz pousada,
Sempre a procura de aguada,
Na sua marcha constante,
Seja boa, ou seja, maleava
Para mostrar ao caminhante,
Desta trança misteriosa,
Que é o espinho que tem a rosa
E que a vida mais importante,
É vida que a gente leva.
E neste trote cadenciado,
Que eu tenho me conduzido,
Olho para o tempo já ido,
E vislumbro o que virá,
E num cêpo de galpão,
Eu preparo um chimarrão,
Bem quente e bem espumado,
Fico lidando com bastos,
E engraxando as caronas,
Afiando as minhas choronas,
E olhando a tala do mango,
Assobio, um velho tango.......!
Esperando um potro novo,
Que será, também, domado.