Enigma dos estigmas - capítulo 3
Padre Joaquim estava em sua pequena sala de estudos, cercado por livros e imagens de santos. O ambiente era calmo, mas seu coração estava em tumulto. Ele havia ouvido rumores sobre Manoel e as marcas que apareciam em seu corpo — os estigmas. A notícia o deixou inquieto, uma mistura de admiração e dúvida o consumia.
Naquela manhã, enquanto preparava a homilia para a missa, ele não conseguia desviar os pensamentos de Manoel. O jovem sempre foi uma alma generosa, dedicando-se aos outros com um fervor que muitos na paróquia admiravam. Mas os estigmas? Aquilo era algo que desafiava sua compreensão do que era sagrado e profano.
“Como posso reconciliar isso com a doutrina da Igreja?” pensava Joaquim. Ele acreditava firmemente na importância da fé e nos ensinamentos de Cristo, mas também sabia que a religião poderia ser uma fonte de conforto ou de confusão. As marcas de Manoel eram um sinal, mas um sinal de quê? Seria uma bênção divina ou um teste do diabo?
Sentado à mesa, ele olhou para o crucifixo pendurado na parede. “Se Jesus sofreu na cruz, por que não devemos aceitar o sofrimento como parte da caminhada espiritual?” Mas logo outra voz dentro dele questionava: “E se isso for apenas uma ilusão? E se Manoel estiver se colocando em risco ao buscar um significado que talvez não exista?”
A ideia de um milagre o fascinava, mas a possibilidade de heresia o aterrorizava. Ele lembrava das palavras do catecismo sobre a importância da razão na fé. “Não posso permitir que a emoção ofusque meu julgamento”, murmurou para si mesmo, enquanto passava as mãos pelos cabelos grisalhos.
As dúvidas continuavam a assombrá-lo: “E se Manoel estiver sendo manipulado por forças além de sua compreensão? E se ele estiver buscando atenção ou até mesmo poder através desses sinais?” Joaquim se sentia dividido entre o desejo de proteger a pureza da fé e a necessidade de apoiar um jovem que claramente estava passando por um momento profundo.
Enquanto olhava pela janela, viu algumas crianças brincando no pátio da igreja e pensou em como Manoel sempre se dedicou àquelas almas inocentes. O fervor do jovem pela caridade era inegável. “Talvez os estigmas sejam uma forma dele se conectar ainda mais com aqueles que sofrem”, ponderou Joaquim.
Com um suspiro profundo, ele decidiu que precisava conversar com Manoel. Era fundamental entender o que estava acontecendo com ele — não apenas as marcas visíveis, mas também a transformação interior que ele parecia estar vivenciando. A dúvida ainda pairava sobre ele como uma sombra, mas algo dentro do padre começava a entender que talvez fosse hora de abrir seu coração e mente para novas possibilidades.
“Se a fé é um caminho para compreender o divino”, refletiu Joaquim, “talvez eu precise estar mais aberto ao mistério.” E assim, com essa nova determinação, ele preparou-se para enfrentar não apenas os desafios da sua paróquia, mas também os desafios de sua própria fé diante do extraordinário fenômeno que era Manoel.
Acompanhe amanhã o próximo capítulo!
Desta curiosa e emocionante história!